quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Brincando com o fogo

Não é sem alguma apreensão que assisto às acções e tomadas de posição de uma administração norte-americana em declínio.

Bush preocupa-se com a ameaça de Ahmadinejad de destruição de Israel e com o desenvolvimento de armas nucleares por parte do regime de Teerão, enquanto Putin afirma que a Rússia não tolerará qualquer tipo de acção militar contra o Irão, declarando que acredita que o programa nuclear do Irão tem apenas fins pacíficos como a utilização de energia nuclear.

É interessante analisar as declarações de Bush: "So I've told people that, if you're interested in avoiding World War III, it seems like you ought to be interested in preventing them from having the knowledge necessary to make a nuclear weapon."

Vêm-me à memória as tomadas de posição que precederam a I Guerra Mundial, quando governos e líderes de cada país interiorizaram cognitivamente que não iam entrar em Guerra porque assim o desejavam, mas sim porque o "outro" não lhe deixava qualquer outra alternativa, desta forma legitimando a sua acção, da qual não teria culpa.

Simultaneamente Bush adverte que a Coreia do Norte poderá enfrentar consequências se não cumprir os compromissos de desmantelamento do seu programa nuclear, e afirma que não é do melhor interesse da Turquia prosseguir com o recém aprovado envio de tropas para o norte do Iraque, com vista a desmantelar a guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Como se não bastasse, Bush ainda desafia Pequim recebendo o Dalai Lama e concedendo-lhe a mais alta condecoração civil dos Estados Unidos, a Medalha de Ouro do Congresso.

Pergunto-me se pairará um sentimento de invulnerabilidade pela Casa Branca ou se serão estes espasmos de uma administração a caminho do fim.

De qualquer das formas, é cada vez mais frequente a referência a um futuro conflito de grandes proporções, não restando muitas dúvidas que a região do Médio-oriente e Ásia Central será inicialmente o teatro de operações que concentrará mais atenções.

À medida que avançamos no tempo, com gerações de decisores que se vão esquecendo dos efeitos de uma guerra, mais facilmente se recorrerá a essa instituição geralmente utilizada para corrigir o equilíbrio do sistema internacional.

E ainda vêm idealistas e construtivistas dizer que com a ONU se caminha cada vez mais para um sistema-mundo com um Estado ou entidade supranacional que condiciona a acção de todos os actores.

Ainda que desde a queda do muro de Berlim a agenda internacional se tenha multiplicado em diversas issue areas que se colocam ao mesmo nível de questões de segurança e defesa, serão necessárias mais evidências de que a balança de poderes e a power politics continuam a ser os elementos mais determinantes da política externa dos Estados?

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